Aposentadoria ativa: a chave para a longevidade financeira
por: Carlos Castro, CFP® em 09/09/2025
Aposentadoria
O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado. Segundo levantamento de Rogério Nagamine, ex-secretário do Regime Geral da Previdência, com base nos dados da PNAD Contínua/IBGE, o número de pessoas ocupadas com mais de 60 anos cresceu 76% em pouco mais de uma década: de 4,9 milhões no segundo trimestre de 2012 para 8,6 milhões neste ano. Na faixa entre 40 e 59 anos, o salto foi de 32%, passando de 31 milhões para 41 milhões. Esses números confirmam um movimento irreversível: teremos cada vez menos jovens entrando no mercado de trabalho e uma massa crescente de trabalhadores acima dos 50 anos.
Esse cenário traz implicações diretas. O envelhecimento da população pressiona o sistema previdenciário, aumenta a razão de dependência entre idosos e adultos em idade ativa e exige mais conscientização das empresas sobre os profissionais 50+. Afinal, se a força de trabalho será cada vez mais composta por pessoas maduras, é preciso rever políticas de contratação, desenvolvimento e retenção.
Mas há um ponto ainda mais crítico: a baixa reserva financeira da maioria dos brasileiros. A longevidade aumentou, mas a capacidade de sustentar essa vida mais longa não. Aposentar-se “cedo” e viver décadas sem trabalho ativo tornou-se inviável para grande parte da população. Muitos chegam aos 60 anos sem recursos suficientes para manter qualidade de vida, levando-os a permanecer no mercado de trabalho — muitas vezes por necessidade, mas também por oportunidade. É nesse contexto que a aposentadoria ativa se torna imperativa.
A aposentadoria ativa não é apenas adiar o fim da carreira. É uma nova forma de encarar a maturidade: permanecer produtivo, relevante e financeiramente ativo mesmo após a aposentadoria formal. Isso pode acontecer por meio de consultorias, mentorias, empreendedorismo, freelances, prestação de serviços ou até atividades que unam hobby e fonte de renda. Mais do que complementar o orçamento, trata-se de preservar autonomia, propósito e saúde mental. Estudos mostram que a permanência em atividades produtivas reduz sintomas de depressão, fortalece redes de relacionamento e melhora a qualidade de vida dos idosos.
Exemplos já se multiplicam. Um executivo que se torna consultor por projeto, uma professora que transforma sua experiência em cursos online ou um profissional de saúde que presta mentorias em gestão hospitalar mostram como o trabalho pode se reinventar na maturidade. Esses casos ilustram que envelhecer de forma ativa não é apenas possível, mas desejável.
Do ponto de vista econômico, a aposentadoria ativa é uma solução tanto para indivíduos quanto para empresas. Para o indivíduo, significa continuar gerando renda em um período de vida cada vez mais longo, diminuindo a dependência de um sistema previdenciário insuficiente. Para as empresas, representa a oportunidade de reter talentos experientes, aproveitar sua maturidade e fortalecer equipes multigeracionais. Mas isso exige políticas de recrutamento mais inclusivas, programas de capacitação contínua e formatos de trabalho flexíveis.
É claro que só a renda ativa não resolve tudo. Envelhecer com saúde financeira requer também a construção de renda passiva — fruto de um capital acumulado ao longo da vida. Dividendos de ações, fundos imobiliários, aluguéis, previdência complementar, títulos públicos e privados: são instrumentos que permitem que o patrimônio trabalhe a favor do investidor. O equilíbrio entre continuar ativo no mercado e colher os frutos de investimentos planejados é a chave de uma aposentadoria verdadeiramente sustentável.
O planejamento financeiro deve ser construído com essa visão integrada. Não se trata apenas de investir para o futuro ou de continuar trabalhando indefinidamente. Trata-se de combinar renda ativa com renda passiva em uma estratégia que promova segurança, liberdade e bem-estar integral. Esse modelo permitirá às próximas gerações enfrentar o desafio da longevidade sem abrir mão de qualidade de vida.
O Brasil está envelhecendo rápido, e as empresas precisarão se adaptar. A previdência tradicional já não basta. A aposentadoria ativa se consolida como caminho para complementar a renda e, principalmente, para manter propósito e saúde mental. E, quando combinada com um planejamento financeiro que gera renda passiva ao longo do tempo, cria-se a fórmula que garante longevidade com dignidade, saúde financeira e realização pessoal.
Carlos Castro, planejador financeiro, CEO e sócio-fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico