Como seu score de crédito pode abrir ou fechar portas para crédito bom e “barato”
por: Carlos Castro, CFP® em 30/07/2025
Finanças Pessoais
O Brasil enfrenta um ciclo persistente de endividamento. Em 2025, mais de 78% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Isso não quer dizer que todas estão inadimplentes — mas revela um padrão preocupante: o crédito vem sendo usado de forma desorganizada, muitas vezes sem critério ou retorno, e quase sempre sem planejamento.
Crédito, quando bem utilizado, é uma alavanca. Financia crescimento, viabiliza investimentos, antecipa patrimônio. Mas, usado de forma inconsciente, vira uma armadilha. O score de crédito é justamente o reflexo dessa relação. Ele funciona como uma espécie de termômetro da sua saúde financeira. Quanto maior o score, menor o risco que você representa para o mercado. Resultado? Acesso facilitado, juros menores, prazos melhores. Quem cuida do próprio nome é recompensado com crédito de qualidade. Quem negligencia, paga mais caro — ou sequer consegue acesso.
É importante entender a diferença entre estar endividado e estar inadimplente. Ter dívidas não é, por si só, um problema. Um financiamento imobiliário, um crédito estudantil ou um empréstimo para abrir um negócio fazem parte de uma estratégia patrimonial legítima. Isso é crédito produtivo. Já a inadimplência começa quando essas dívidas deixam de ser pagas no prazo. E pior: quando o crédito é usado para bancar consumo — roupas, eletrônicos, viagens — sem nenhum retorno. Nessa equação, o prazer é imediato, mas o custo é contínuo.
O score de crédito é uma pontuação que vai de 0 a 1.000 e indica a probabilidade de inadimplência. Ele é calculado com base em uma série de fatores. Entre os que mais impactam negativamente estão:
- Atraso no pagamento de contas e boletos;
- Nome negativado nos birôs de crédito (como Serasa ou SPC);
- Uso elevado e constante do limite do cartão de crédito;
- Múltiplas consultas ao CPF em um curto intervalo de tempo;
- Concentração de dívidas em poucos tipos de crédito;
- Falta de atualização cadastral.
Por outro lado, o score pode subir — e com ele, sua reputação financeira — a partir de boas práticas. Os principais hábitos que ajudam a melhorar seu score são:
- Pagar todas as contas em dia: pontualidade pesa muito na pontuação;
- Quitar ou renegociar dívidas vencidas: especialmente as negativadas;
- Atualizar seus dados nos birôs de crédito: CPF, endereço, e-mail e telefone;
- Ativar o Cadastro Positivo: que registra seus pagamentos recorrentes de contas como luz, água e telefone;
- Evitar solicitar crédito com frequência: muitas consultas consecutivas indicam instabilidade;
- Manter o uso do crédito sob controle: evite comprometer mais que 30% da sua renda com dívidas.
É possível conseguir crédito mesmo com score baixo, mas o custo será alto. Juros mais salgados, prazos menores, menos opções. Já quem tem score alto entra em um jogo diferente: tem poder de barganha, melhores condições e crédito à disposição para objetivos estratégicos.
O crédito não é o vilão das finanças pessoais. É uma ferramenta poderosa — desde que usada com consciência e estratégia. Usá-lo para sustentar um padrão de vida acima da realidade financeira é cavar um buraco — e depois reclamar da profundidade. O score é seu currículo financeiro. Ele mostra, de forma objetiva, como você lida com dinheiro. E, como qualquer currículo, pode — e deve — ser aprimorado com disciplina, constância e visão de longo prazo. Um bom score não apenas abre portas para crédito mais barato, mas também influencia o acesso a produtos bancários, seguros, aluguel de imóveis, e até oportunidades de carreira. Em tempos de juros altos e seletividade do mercado, reputação financeira é capital.
O mercado observa. E recompensa quem cuida bem do próprio nome.
Carlos Castro, planejador financeiro, CEO e sócio‑fundador da SuperRico