Como ensinar educação financeira para os filhos

Criar os filhos, por si só, já gera muitas dúvidas. São muitas escolhas, desde que o bebê nasce: os pais decidem se darão ou não chupeta, se a amamentação será por livre demanda ou em horários pré-definidos entre tantas outras coisas que vão aparecendo no dia a dia do bebê.


 


A educação financeira é apenas um dos temas que gera divisão de opiniões e acredito que esse conflito de ideias se dê pelo desconhecimento do tema pelos próprios pais. Uns acham que a educação financeira se trata de ensinar seus filhos a investir. E como fazer isso se os próprios pais não investem?


 


Há quem acredite que educação financeira para crianças seja ensinar desde pequenos a valorizar o dinheiro que é ganhado com o suor do trabalho. Mas entendo que valorizar o trabalho está acima de qualquer educação financeira. Valorizar o trabalho é parte de uma educação cidadã, na qual o indivíduo se entende como parte de uma sociedade que precisa de todos para o seu bom funcionamento.


 


Particularmente, entendo que educação financeira infantil é construir na criança um bom relacionamento com o dinheiro. De forma que ele não ocupe um papel de vilão ou mocinho, mas sim o papel de “meio” para atingir objetivos. Não queremos criar crianças que ao crescer terão o dinheiro como próprio fim, ou que torrem todo o dinheiro em coisas insignificantes e não realizem seus sonhos.


 


Quando crianças desenvolvemos muitos preceitos financeiros que, em muitos casos, podem não ser saudáveis para serem levados até a vida adulta. Por exemplo, quantas pessoas crescem achando que o dinheiro desvirtua de uma vida digna? Isso acontece porque temos vários exemplos de pessoas que não souberam lidar com o dinheiro. Mas, e se para cada exemplo de famosos que tiveram péssima atitude perante o dinheiro, citássemos pessoas que tiveram sucesso nessa relação e construíram uma boa vida, geraram empregos e ainda ajudaram tantas outras famílias? Será que essa ideia negativa sobre o dinheiro teria ganhado tanto poder na mente de tantas pessoas?


 


Além disso, a idade da criança diz muito sobre como e o que ensinar. Para uma criança pequena, por exemplo, é interessante ter conversas sobre os desejos da criança. Fazê-la pensar nos motivos que a levam a querer algum objeto e desenvolver um senso crítico que a leve a entender que ela não precisa de tudo que aparece na TV ou que os colegas possuem.


 


Quando a criança cresce um pouco e começa a receber mesada, podemos junto ao dinheiro fazer provocações, como sugerir que ela freie os impulsos e pense um pouco mais no que ela deseja fazer com aquele dinheiro. Podemos também lembrá-la das opções de gastar logo com algo que ela realmente queira, guardar para comprar algo maior, doar, ou ainda gastar parte e guardar a outra parte.


 


Depois de certa maturidade, a criança pode ser inserida em algumas reuniões de planejamento da família, como no planejamento para as férias, quando se estuda os possíveis destinos, verifica-se os prós e os contras e, é claro, o valor que de cada opção. Com o tempo ela pode participar das idas ao supermercado, com especial atenção.


 


Outra boa opção são os jogos de tabuleiro. Existem ótimos jogos para crianças e adolescentes. É uma forma bem bacana de aprofundar os conceitos e a linguagem sobre finanças. Além disso, existem várias ideias para “gameficar” a mesada, basta procurar no universo da internet para achar várias opções. O papel desses jogos é ensinar de forma leve as questões financeiras.


 


E então a criança faz 15 anos! Ah, os tão esperados 15 anos! Uns querem festas, outros desejam uma viagem (sem os pais, de preferência), mas inevitavelmente é um momento memorável! Aqui me atrevo a contar uma história da mãe de uma amiga do ensino médio, que  chamarei pelos pseudônimos de Vânia, a mãe, e Vivian a filha (minha amiga).


 


Aos 15 anos conheci Vivian, e ela me contou que tinha uma casa de praia na região dos lagos do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, com a amizade fortalecida, viajei com ela e conheci a casa. O terreno bem grande, a casa bem bonita, sem luxo, porém muito confortável. A, então, “tia” Vânia me contou que, ao completar 15 anos o pai dela, que aqui chamarei de Sr. Vicente, a chamou para conversar sobre a tão sonhada festa de debutante. Sr. Vicente contou que havia feito uma poupança para aquele momento, mas que havia pesquisado e com o dinheiro acumulado ela poderia fazer um intercâmbio ou ainda comprar um terreno na praia para futuramente construir uma casa. Vânia então optou pelo terreno e lá estávamos nós, quase 30 anos depois desfrutando da bela casa que Vânia construiu quando começou a ter sua própria renda.


 


Pelas minhas contas, Vânia deve ter completado 15 anos no início da década de 70. Achei a história fantástica, não só pela escolha de Vânia, mas pelo pai ter tido a iniciativa de conversar com ela antes de gastar todo o dinheiro na festa. Se fosse hoje, provavelmente Sr. Vicente daria também a opção de investir o dinheiro. E não haveria nenhum problema se Vânia escolhesse a festa, o importante é aprendermos a fazer escolhas de forma consciente, de acordo com o que valorizamos e entender que, como diz Charlie Brown Júnior, “Cada escolha, uma renúncia, isso é a vida”.


 


Com essa história já passamos pelos 15 anos e, quem antes era uma criança, já é um(a) adolescente totalmente capaz de aprender sobre outros temas, como o efeito dos juros compostos no dinheiro investido a longo prazo. E, claro, as razões para se investir a longo prazo. O risco de longevidade, a incerteza sobre a carreira profissional e a aposentadoria, enfim, são temas que apesar de parecerem distantes, devem ser pensados desde cedo.


 


Não obstante, a partir do momento que o jovem abrir uma conta bancária, é necessário explicar sobre cheque especial, linhas de crédito, entre outras coisas que evitam que seu filho venha a cair em pegadinhas do mercado financeiro.


 


Mas, como eu gosto de dizer, tudo isso cai por terra se o relacionamento dos pais com o dinheiro não é um relacionamento saudável. A criança aprende muito mais pelo exemplo, pois este se repete diariamente. Então, se esse é seu caso, sugiro procurar um planejador financeiro ou até mesmo fazer um curso de algum educador confiável, para primeiro mudar a sua vida financeira e em seguida, criar filhos que vão realizar escolhas conscientes e assim, alcançar o sucesso desejado por eles mesmos!

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