O que o 13º e a Black Friday tem em comum?

A Black Friday surgiu nos EUA, impulsionada pela necessidade dos varejistas limparem seus estoques para garantir o lucro do negócio antes de acabar o ano. Hoje, a Black Friday é tradicional e demarca o momento de início de compras de Natal, após o feriado de Ação de Graças. O Thanksgiving Day (Dia de Ação de Graças) ocorre todos os anos na quarta quinta-feira do mês de novembro, seguido pela Black Friday. O sentimento coletivo de gratidão facilita as compras no dia seguinte. E o comércio reforça essa facilidade oferecendo descontos e promoções tentadoras. 


 


Por sua vez, o décimo terceiro salário foi instituído em 1962, por João Goulart, em um período político bastante conturbado, após a renúncia de Jânio Quadros. Mesmo antes de ser instituído na forma da lei, era comum o empregador oferecer bonificações aos bons funcionários no final do ano. As bonificações nem sempre eram em dinheiro, às vezes a premiação era feita com cestas básicas ou outros bens. Embora essa prática fosse comum desde 1962, foi apenas em 1988 que o 13º entrou para a Constituição Federal. Ao longo do tempo o décimo terceiro ocupou uma importante função no giro da economia, garantindo boas vendas no período de final de ano.  


 


Você já parou pra pensar na relação entre o  13º salário e a Black Friday? 


 


A Black Friday foi incorporada ao comércio brasileiro em 2010 e desde então ocorre todos os anos. Neste ponto, Black Friday e décimo terceiro salário se encontram. Um casamento perfeito, para o comércio. Nem sempre para as suas finanças. A primeira parcela do benefício, por força de lei, deve ser paga até o dia 30 de novembro. A Black Friday no Brasil, por tradição, ocorre na última sexta-feira do mês de novembro. Você já entendeu! 


 


O décimo terceiro pode ser usado para muitas coisas, já que é um salário extra e, em teoria, não estaria comprometido com as despesas do dia-a-dia. De acordo com a última pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 34% dos brasileiros que receberão os recursos pretende poupá-lo. 33% pretendem usar para as compras de Natal. 24% vão usar para celebrar as festas de fim de ano. 16% pretendem pagar impostos e tributos ou dívidas em atraso. 


 


Os dados evidenciam que grande parte da população pretende utilizar os recursos no consumo. Apesar da extrema importância do 13º para a saúde da economia, precisamos falar sobre as consequências do consumo desenfreado para a saúde e o bem estar pessoal. 


A entrada de um recurso extra no final do ano empurra as pessoas para um círculo vicioso de consumo e endividamento. Para muitos, a renda extra do décimo terceiro não é suficiente para as compras de Natal. A pesquisa ainda aponta que 59% pretende fazer algum bico para comprar mais presentes ou presentes melhores. Quem não consegue o bico, fatalmente acabará endividado e será mais um início de ano em que o décimo terceiro não foi suficiente. 


 


É urgente a necessidade de se colocar de fora deste círculo, de alcançar consciência no consumo de final de ano. Pode ser difícil lidar com a dor da mudança de hábitos com os quais se conviveu por muitos anos. Pode ser doloroso não presentear os familiares ou distribuir presentes mais modestos. Mas posso dizer com um pouco de certeza que essa decisão não será mais difícil do que a decisão de suportar todos os novos anos com novas dívidas. E com isso distanciar-se de seus objetivos e de uma vida financeira tranquila e organizada. 


 


Como dissemos, esta injeção de dinheiro que gera consumo inconsciente, deflagrado muitas vezes por promoções (reais ou não) como a Black Friday é importante para a economia. Porém é também um sintoma de fragilidade dela. O comércio passa por um momento de bonança no final do ano, impulsionado pela Black Friday e pelas compras de Natal. Esse período contribui para um endividamento que afasta as pessoas das compras nos próximos meses. Este afastamento causa consequências estruturais na economia, aumentando dificuldades logísticas, trabalhistas e econômicas, que impactam negativamente o custo Brasil. O desenvolvimento econômico é freado por toda essa conjuntura. 


 


Rever este comportamento de gastos é benéfico para o controle das finanças pessoais e também para o desenvolvimento econômico brasileiro. Com pequenos ajustes neste consumo podemos ajudar a roda da economia a girar de maneira mais previsível e estável. Uma vez que se planejam as despesas de final e de começo de ano, as pessoas estarão preparadas para os picos de gastos inevitáveis, mas o comércio também será beneficiado. Uma compra planejada não impacta nos próximos meses, e o resultado é uma população com dinheiro no bolso ao longo de todo o ano. Isso garante previsibilidade de faturamento e de custos para os negócios, em especial para o comércio. Nessa dinâmica, os negócios conseguem diluir melhor os seus custos a cada mês. 


 


É importante ressaltar que compras de fim de ano e presentes de Natal fazem parte da cultura brasileira. A nossa proposta com essa reflexão não é, definitivamente, alterar a cultura. Temos o desafio, e a missão, de melhorar a cultura de educação financeira do brasileiro. E com isso proporcionar momentos de consumo e comunhão com a família sem o amargo dilema do endividamento após estes momentos, que merecem recordações carinhosas. 


 


Faça um consumo consciente nesta Black Friday e aproveite o final de um ano difícil com a companhia de sua família. Lembre-se que o mais importante é ESTAR presente. 

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