Classe média deixa 70% do dinheiro na poupança; ricos deixam 0,4%

Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo


Link da matéria: https://bit.ly/2Lp9t5R


 


Há um consenso de que o pequeno poupador está, aos poucos, se familiarizando com conceitos básicos de educação financeira e investimentos, historicamente distantes para a maioria dos brasileiros. A entrada recente de um batalhão de pessoas na bolsa de valores, a briga cada vez mais acirrada entre bancos e corretoras pelos novos clientes e mesmo o surgimento de influencers da periferia especializados em dicas de finanças são alguns indícios disso.


 


Mas a distância entre o investidor pequeno e os que sempre estiveram no mercado –os milionários, notoriamente– ainda é gigante. E não só no tamanho da conta. Enquanto os clientes polpudos têm os investimentos espalhados por uma série de aplicações diferentes, com uma fatia de 60% entre ações e fundos multimercados, o correntista médio ainda deixa quase tudo que tem na renda fixa, sendo 70% só na poupança. Pouco menos de 2% do dinheiro deles está em ações. Os dados são da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).


 


A poupança é uma das aplicações mais seguras e práticas, mas também a que tem um dos piores rendimentos da renda fixa. Em 2020, ela remunerou apenas 2,3%, ficou (bem) para trás da inflação e, na prática, fez o investidor perder dinheiro. Por essas razões, a indicação uníssona dos especialistas é fugir dela sempre que der. Eles próprios, porém, ressalvam que nem sempre dá.


 


“Para quem só tem o dinheiro que pode precisar no dia seguinte, não tem muito para onde ir além dela”, diz o planejador financeiro Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar, associação que certifica e reúne os planejadores.”


 


"O cliente de menor renda não tem cultura de investir, mas também não tem muito para investir, não sobra. Conseguir se organizar e se planejar é um começo. Quem já está numa situação mais confortável, aí sim, estará perdendo dinheiro ao deixar na poupança." - Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar


 


 


Média de R$ 12 mil investidos


 


De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (4) pela Anbima, havia no país em dezembro uma montanha de R$ 3,7 trilhões investidos em bancos e corretoras no país.


 


Eles estão espalhados por poupança, títulos de renda fixa, ações, fundos de investimentos e outras opções. Para se ter uma ideia, é o equivalente à metade do PIB do país. Os valores consideram apenas investimentos; depósitos em conta-corrente, por exemplo, não entram.


 


 



 


 


Um terço disso (R$ 1,2 trilhão) está no chamado varejo tradicional, segmento mais básico dos bancos voltado para os clientes de renda média e baixa, com salário em geral de até R$ 5.000 por mês. De acordo com os números da Anbima, é uma turma que reúne 97 milhões de contas e que tem, em média, R$ 12 mil investidos nelas.


 


Em dezembro, 70% do dinheiro deles estava na poupança. Mais 25% foram deixados em outras aplicações de renda fixa, como títulos públicos, CDBs e fundos, e só os 5% restantes foram para categorias diferentes de investimentos, como ações e fundos multimercados.


 


 


Mais ricos têm R$ 12,3 milhões


 


Na outra ponta, os clientes do chamado private, o segmento mais VIP das instituições financeiras, deixaram apenas 0,4% de seus R$ 1,5 trilhão totais na poupança. O private é para onde vão as famílias mais endinheiradas, onde têm acesso a assessoria personalizada e produtos exclusivos.


 


Trata-se de um grupo pequeno, que responde por 120 mil contas, ou 0,1% do total. Mas 40% de todos os R$ 3,7 trilhões de investimentos mapeados pela Anbima estão com eles. Em dezembro, cada conta private do país tinha, em média, R$ 12,3 milhões aplicados –cada pessoa pode ter mais de uma conta.


 


No total, a renda fixa responde por 26% do bolo de investimentos dos mais endinheirados, enquanto a renda variável e os fundos multimercados já levam hoje 29% e 31%, respectivamente.


 


“Quando a pessoa já formou uma reserva de emergência, daí sim ela pode diversificar”, disse Carvalho, da Planejar. “Para isso, é importante conhecer não só o seu perfil de risco, mas também seus objetivos e prazos. Se é um investimento de médio e longo prazo, faz sentido correr um pouco mais de risco.”


 


 


 



 


 


No meio do caminho


 


Se o varejo tradicional parece estar consolidando suas primeiras reservas, e o nicho private já superou essa fase há muitos milhões de reais, há no meio um terceiro segmento que começa também a diversificar mais suas aplicações.


 


Trata-se do chamado varejo de alta renda, um degrau intermediário dos bancos onde ficam, no geral, os clientes que têm ao menos R$ 100 mil em aplicações. Os recortes dos segmentos são definidos pela instituição e podem variar de uma para outra.


 


Eles tinham, em dezembro, média de R$ 125 mil aplicados na conta. Cerca de 70% disso ainda está todo na renda fixa, ante os 95% do varejo de baixo e os 26% dos milionários de cima. A fatia deles só na poupança era, em média, de 13,5%. As ações ficaram com 14% e os fundos multimercados, com 12%.


 


 


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